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Cantiga de amor

para Gabriel


A mesma mão que feriu, agora traz a bandagem.
Silêncio: atrás da névoa, dormem ainda florestas.
Não temos mais vinte anos.
E não sei se jamais deixaremos o traçado asfalto
para nos aventurarmos em musgo.
E sorver o fino aroma dos talos.
Dormem ainda florestas
atrás da névoa; silêncio. Não te movas.
Olha para cima: a dançarina
passa leve alheia sobre o fio esticado.
Não grites.
Longe, muito longe
a menina de vestido de organdi
toca ainda piano para as visitas.
Como um pequeno pássaro acorrentado.
Não grites.
Contemplemos juntos as florestas adormecidas.
Sim, não temos mais vinte anos.
Aceita pois a bandagem
da mão que feriu.


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