Natureza viva
Qual o desenho mais fino
de um peixe?
Lenta construção de espinhas
sobre um eixo?
Traço veloz, disco amplo,
é gume ou face da lâmina,
lua nova ou lua cheia?
Qual o desenho mais simples,
e sendo simples, inteiro?
Somente a linha nervosa
do flanco?
O peso quieto dos olhos,
o fole da sua boca
bebendo o céu no oceano?
A cor que passa brilhando
pelo dentro das escamas,
o quase azul, quase aéreo
que há no tremer das membranas?
Ou sua expansão raiada,
estática, transparente,
que distendendo, concentra,
que divergindo, converge
ao mudo ponto-momento,
àquele lastro em seu centro
por onde ele é ancorado
aos muitos centros da água
sem nunca estar preso a nada?
A vegetação das brânquias,
fina plumagem interna
do pássaro vertical
capaz de um planar mais denso?
Como desenhar o peixe
naquilo que não se vê
– se pressente –
como um olhar pela nuca
que faz voltar a cabeça?
O desenho essencial
do peixe:
o traço agudo da fuga,
o claro-escuro silente,
o espaço vago ocupado
no momento precedente.