Verão
No centro da folha
palpita a cigarra,
seu sonho dourado
escorre na tarde.
No sono da folha
palpita a cigarra,
seu grito de ferro
é mel que borbulha
fervendo, escorrendo
no sono da tarde.
No sono da tarde
crepita a cigarra,
qual trêmula chama,
fogueira que estala,
serrote de cobre
serrando os azuis,
cortando os fantasmas
das árvores mortas.
No centro da tarde
palpita a cigarra,
deusa diminuta
nutrida das horas,
da cor que circula,
resina que escorre
do seio da tarde.
Picado no centro,
palpita, sangrado,
e vai desmaiando
o coração da tarde.