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A tartaruga

Ela vinha de amplos e densos azuis
com o seu profundo vôo manso,
a nativa realeza
na curva das asas lentas,
borboleta marinha. 

Ela vinha de um tempo líquido,
do silêncio,
e altos e verdes mistérios
habitavam a fenda de sua pupila,
o movimento rápido da sua cabeça ofídica.
No domo da couraça, na placa do ventre,
divididos em quadriláteros antigos,
a esquivança do perigo,
obscuros presságios e arrepios
abrigavam-se condensados, expectantes.

Depois ainda a vimos no laboratório,
circulando nos limites da bacia de metal
– ração certa oferecida por mão incomunicável. 

Agora, sobre a pia de aço,
é esse cheiro a decomposição e formol,
a turva água sanguinolenta,
e essas vísceras dobradas, empilhadas...
Segunda-feira – oito às dez – Anfiteatro de Zoologia.


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