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Fuga

Se alguém apanhasse o pássaro
e o impedisse de voar,
se alguém prendesse o minuto
que vive só de passar;

se alguém agarrasse o sonho
para ver se o possuía
e depois abrisse as mãos
e as encontrasse vazias;

se alguém afogasse a sombra
debaixo d’água do mar,
se alguém segurasse a cor,
parasse o vento no ar...

Tudo que quero no mundo
vive de ser perseguido:
é a margem de lá do rio,       
é, no espaço da memória,
branco momento esquecido.

Tudo que quero viver
não pode ser alcançado:
é o monte por trás do monte,
reflexo d’água na ponte,
é o sonho nunca sonhado.


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