○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○ ○ ○
Agora os tempos são outros
Agora os tempos são outros
e as águas, muito mais turvas,
às oficinas do espanto
não há mão que me conduza.
Não há mão que me conduza
às oficinas do tempo
onde, na forja dos anos,
brilham em cascata e morrem,
em fagulhas, os momentos.
E transpondo a ventania,
me deixe cega e calada
nessa clareira de pasmo,
na zona de calmaria
onde todo vento cessa
no olho da tempestade.
Deixe-me de olhos fechados,
transida às margens do assombro,
articulando nos lábios
o que a alma nunca soube
– só pressentir lhe foi dado:
frases de mundos perdidos,
vozes de um sonho esquecido
antes mesmo de sonhado.