○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ● ○
E todos os dias falamos, falamos
O poema é linguagem erguida.
Octávio Paz
E todos os dias falamos, falamos.
As palavras despertam por um momento
do limbo onde dormem.
Florescem, explodem
e caem.
Fogos de artifício, projetam-se,
descrevem arcos, desenham figuras,
soltam fagulhas
e caem.
Por um instante, objetos,
despencam no amorfo,
retornam ao pó.
Em talos, alçam-se as palavras,
flor, organismo, sintaxe,
e caem por terra – átomos,
listagem de dicionário.
Entulho de substantivo, adjetivo, advérbio,
sem trajetória de verbo.
Até que um dia,
soprado por deuses, o poema
ergue-se do caos.
(Ainda um momento oscila,
falta ao poeta, talvez
desbastar-lhe as últimas arestas,
desvelar-lhe a pura, branca forma,
única possível.)
Desde o início pronto em seu ritmo,
inteiro como um seixo,
o poema ergue-se claro e definitivo.