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A tarde era toda azul

A tarde era toda azul.
Com agulha e linha pensei
em pregar os botões caídos,
fazer uma colcha de retalhos coloridos,
e mergulhei a concha na panela
para provar, no molho,
as especiarias.
Mas ai,
a tarde era toda azul!
As montanhas recortavam-se exatas
e sobre a minha cabeça
o céu era redondo e liso.
Com agulha e linha,
com tesoura, agulha e linha, tentei
reunir os farrapos dispersos.
Com lápis e papel procurei
copiar o desenho da vida,
escrever o nome de cada coisa
e compreender
o que devia ser aspirado – perfume.
Já a carne queimara na panela e me quedei
estática
diante da janela.
E quando os morros embaçaram nas bandas do norte
seria a chuva que vinha chegando,
seria o vento
tangendo a sombra da noite,
ou essas duas pequeninas lágrimas
que molharam meus dedos?


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