Vestígios - poemas escolhidos > O poeta e sua oficina

Vestígios Logo


Adoeci para salvar-me

Adoeci para salvar-me.
Por muitos anos vivi
entre sala e cozinha
discreta
como queriam os homens.
Pari filhos, levei-os à praça,
fui ao mercado, fiz doce,
lampejo de ouro
no dedo anular.
Um dia uma nuvem cobriu o sol.
Toda a noite a lua esteve vermelha
e das águas subiam emanações dulcíssimas.
Tomei uma poção envenenada,
adormeci cem dias e cem noites
e quando acordei eram outros os tempos.
E falava com as plantas
e sabia as vozes dos animais.
Dormi debaixo das águas,
entre peixes e afogados,
me evadi de todo o peso e transitei entre os pássaros.
Adoeci para salvar-me.
E ainda hoje levito deslumbrada
com saudades da copa e da cozinha.


Veja o livro publicado







comente

Nome

E-mail

Mensagem