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Lastro

Eras verbo, sopro, tão só movimento.
Por ti, para ti,
o corpo se inclinava suave, jeito de caule.
E era menos nome.
E foi também sorriso,
um não entender – no entanto leve,
um medo grave.
E essas palavras tombando do alto
como se fossem chuva.

Embora o sangue todo estivesse presente
fazendo o mesmo vagaroso percurso,
impondo o mesmo trajeto líquido,
seu lastro vegetal,
suas correntezas e marés.

Soberanos e súditos,
possuidores possuídos,
caminhávamos de mãos dadas,
carregando o amor – esse fardo de moedas de ouro –
o mesmo peso, o mesmo brilho.
E as estações se cumpririam em nós
sem que pudéssemos intervir.
E nos seria imposto um ritmo.
Mas a partir desse doce laço obscuro,
a partir dessa comunhão entranhada
também nos seria dado voar.
E da disciplina continuada
– noite e dia exercícios de barra –
faríamos nossos passos de dança.
E seria também corpo
esse brilho a que chamam olhar
alçado para tuas palavras
caídas do alto.
E sagradas.

E as pernas pesadas de ossos e músculos,
os braços cheios de nós e tendões: ombros, cotovelos,                                                                         [pulsos
– quantos encaixes! –
a pele e as vísceras todas,
tudo estaria presente e seria esquecido quando,
esculpido o gesto,
se divisasse na testa a guirlanda
e subisse aos lábios, em goles,
o sorriso.

E ficássemos com um pouco de asas.


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