Caminhada na praia
A água me tece lentas perguntas em conversa líquida.
As conchas pisadas crepitam perguntas nas bruscas arestas.
E olhadas de perto, são mudas palavras em forma concreta.
A prata azul-roxa no flanco dos peixes morridos de pouco,
o caco de lua guardado nos olhos de espanto redondo,
são árduas perguntas.
O vulto de um homem que os longes diluem na sobra e no [vento,
a carne opaca no resto alvacento do peixe sem olho
indagam surdinas.
A casa fechada, paredes compactas de cal e saudade,
o som de meus passos, maciços na areia, em confins de [praia,
o canto dos grilos, o salto de um gato de olhares esquivos
perguntam, perguntam, perguntam.
Os barcos vazios berçando silêncios, berçando fantasmas,
balançam convites, oscilam chamados em águas longínquas.
E um brilho se mexe na fria e parada lagoa de sal,
que escura marulha, marulha e marulha nos longes de mim.