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Presença

Já a poesia não se dá, como flor.
Escrever se faz difícil
passagem em caverna estreita.
Lentas ausências se somaram,
fizeram o ar rarefeito,

E a aranha é uma estrela de pasmo
na tela vazia dessas ausências.

Já não há mais simpatia
nem de mim para mim mesma.
E o ritmo dos meus ouvidos
é já de um tempo escoado,
é já de um sangue esvaído,
sujo e seco – coagulado.

A aranha é pedrada no vidro,
a aranha é um espasmo, é um grito,
a aranha é rastilho de náusea
no teto da casa invadida,
correndo pela existência.

A aranha é sol negro de tédio
no espelho quebrado da consciência,
é a estrela mofada do medo
no muro caiado do meu silêncio.


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