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Entrava com passo leve

Entrava com passo leve
numa cidade de prata.
Quem foi que escutou meus passos?
Eu ia de olhos fechados
com sombras pelos dois lados. 

O morcego abria o leque
silente de suas asas
– folha de chá nágua quente.
Lua fina, transparente
pelo rendado dos galhos.

Conversávamos co’ as árvores
de braços longos
e longas barbas.
Entre os vultos dos morcegos,
as sombras de gaze negra
e o passo leve dos gatos.

Quem gritou de olhos fechados
por entre muros caiados
e lençóis de linho branco?
Enquanto eu me balançava
na fronteira de dois mundos
com águas pelos dois lados.

Eu ia sendo arrastada
no leito escuro do sono,
na floresta do abandono
entre as margens acordadas,
as mãos já tocando o fundo,
os ouvidos inda à tona
ouvindo vozes e carros.

Sobre o muro branco,
cacho de glicínia
derramado.
Asa de morcego
(ou foi borboleta?)
pulo de gato.
Bordado na fronha,
retalhos de sonho
já deslembrado.

Onde andaram meus sapatos
enquanto eu me equilibrava
por entre jorros de sombra,
pelas ruínas do espanto,
com muros de linho branco
oscilando dos dois lados

nessa cidade de prata?


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