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Oito dias de nojo

O sol se levantou mais uma vez.
Procurei não pensar
que já te desfazias.
Afastei de mim os pensamentos – morcegos
que teimavam em voltar. Nuvens de moscas.
Mas como não pensar no corpo?
Dizei: como não pensar?

Aguardei a missa em silêncio.
Por uma semana, telegramas, visitas,
afastei-os todos,
morcegos que teimavam em voltar. Nuvens de moscas.
Agora é suportar a missa, os cumprimentos,
e depois abandonar essas escuras roupas da morte.
E só, vestido de linho branco,
pensar em ti em silêncio.
Não suportei.
Novamente abraços, choros, fugi.
Fugi, fugi, cego, fugi. Criança no fundo do quintal
escondida da colher de xarope. Silêncio de árvores altas,
anoitecia. Morcegos cegos.

Hoje amanhece uma vez mais sobre mim.
E sobre ti, ai, sobre o que resta de ti,
sobre tudo que não quero, não quero lembrar.

Os morcegos voltam ainda a cada dia. Será assim por muito                                                                         [tempo.
Afasto-os com as mãos. Nuvens de moscas.
Levanto os olhos para o céu
buscando ar.
É domingo. A praia está cheia de gente, eu sei.
Em casa, na tua casa,
sobre a cama desfeita,
é inútil tanto azul.


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