Separação
E nos acercamos da dor devagar
com patas de lã.
Devagar acordamos,
a custo vamos tirando
essa terra de sobre o peito,
esse sal dos olhos.
Uma a uma, sacamos as máscaras brilhantes:
a de sacerdote, a de profeta, a de guerreiro
– elmo, escudo, armadura –
e as plumas da dança de combate.
Devagar, olhamos em volta.
Estamos nus e com frio.
O dia é claro, mas antes
– vamos recordando aos poucos –
era noite de lua.
E devagar voltamos o rosto,
centímetro a centímetro,
num arco,
o olhar enviesado.
Até olharmos de frente a verdade.