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Vitória
A realidade me acordou
sem clarins nem fanfarras.
(Apenas o farfalhar do vento entre as folhas.)
A realidade me acordou
com sua dura vitória sobre o dourado.
(O tronco era castanho e sobre ele
uma cigarra ia iniciar seu canto.)
A realidade me acordou
no momento em que o Rei segurava alto a coroa
e o sacerdote iria ungir minha fronte.
Nesse momento
fui acordada num catre nu
vestida num severo trajo de linho claro.
Não havia anjos no céu
a me pousarem espadas no ombro dizendo: - Vai!
Apenas a cozinheira chegou
pedindo o dinheiro da feira.
E dos trapos e soluços encardidos das derrotas
das paixões turvas de medo
fui absorvendo o peso das renúncias
acumuladas.
E talvez apenas esse resto de respeito por mim mesma
desenhasse o enorme “V” cinzento sobre o muro.