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Acordo cedo, menina, e mamãe

Acordo cedo, menina, e mamãe
em sua veste florida,
trajada de Primavera,
já deu corda na casa,
já deu corda na vida.

No quarto,
as cortinas afastadas
para o dia que se levanta.
Um raio certeiro de sol
fura a folhagem da amendoeira,
atravessa a janela,
inunda de saúde travesseiros e cobertores
dispostos sobre o peitoril
e vem aninhar-se nos lençóis da cama desfeita.
A manhã é um grande bolo estufado e amarelo
que sai do forno prometendo suas passas.
Pardais e bem-te-vis cantam.

No banheiro,
a água brinca nas torneiras
e no esmalte branco da pia.
Na cozinha, a mesa posta,
cheiro de café fresco e pão quente,
a água chia na chaleira,
o leite ferveu.
O tique-taque dos relógios empurra
as nuvens bojudas no céu
e mantém firmes em seu curso   
a casa, velas infladas,
a infância, velas enfunadas.

Hoje levanto-me tarde.
Há louça suja na pia.
A casa bóia à deriva.
A vida, adernada, encalhou.


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