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Os responsáveis
Os nossos responsáveis são os que nos levam para a escola e depois nos buscam na hora de sair.
Os principais responsáveis são o pai e a mãe mas às vezes a babá pode ser responsável e os avós também são.
O responsável tem que pegar bem na minha mão para atravessar a rua comigo, minha mãe recomenda uma porção de vezes, mesmo a pessoa já sabendo disso. Minha mãe tem medo que a babá se distraia e solte a minha mão. Aliás eu já vi até ela falando pro meu pai: “Essa menina é uma irresponsável!”, mas foi por outra coisa que ela fez e que eu não sei o que foi. Mesmo assim, depois disso, ela foi me apanhar no colégio como responsável e segurou a minha mão com força o tempo todo. Então não sei se ela ainda pode mesmo ser minha responsável, mas minha mãe e meu pai é que resolvem.
Quando eu era pequeno de quatro anos, um dia eu escapei da mão da minha mãe e atravessei a rua correndo, e um carro vinha, freou pertinho de mim, o motorista gritou coisas para minha mãe, que já estava assustada e ficou mais ainda. Ela correu atrás de mim e me deu uma palmada e eu também fiquei espantado e olhei para ela e aí ela me abraçou apertado e me beijou e eu vi que ela estava quase chorando assim com lágrimas na beiradinha dos olhos quase escorrendo e fiquei mais assustado do carro, da freada, do motorista gritando, da palmada e minha mãe quase chorando porque ela nunca me deu palmada antes e também não chora na minha frente, quer dizer quando está com vontade de chorar ela disfarça.
Depois disso eu fiquei a tarde toda sem ver televisão, de castigo, mas acabei vendo um pouco de noite porque era hora do meu pai e minha mãe verem e eles não estavam de castigo. Nesse dia eu vi que eu é que fui sem responsabilidade e por isso precisa um adulto bem responsável para pegar as crianças, mesmo as de mais de quatro anos, de cinco, de seis e até de oito.
Às vezes eu gosto de brincar com as palavras. Responsável é das melhores por que quando a gente fica repetindo responsável, responsável, responsável, tantas vezes, esquece o que quer dizer a palavra e fica só o som que parece um monstro assim esquisito como o que eu desenhei no caderno.
Eu tenho um primo de quatro anos que mora em frente ao colégio e já vai sozinho e volta sozinho, mas não é vantagem porque a mãe dele fica olhando pela janela.
Eu acho importante quando a professora toca o sino e diz:
“As crianças da turma 204 já podem ir, acompanhadas pelos seus responsáveis. Marcos Barata (é o nome dele) pode ir sozinho (e eu fico com inveja)”. Eu queria morar na mesma rua do colégio para ir e voltar sozinho, mas eu não queria me chamar Marcos Barata, porque barata é um bicho nojento e tem sempre algum colega para implicar, nem queria ser ele, nem ser filho da mãe dele. Assim, tenho que esperar um tempão, com meus responsáveis me levando e me apanhando na porta do colégio.
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